segunda-feira, 19 de março de 2012

Experiência no Laboratório de Humanidades

por Maria Lúcia Ribeiro Marcondes
Trabalho de conclusão de disciplina

LabHum 2012

“Admirável mundo novo”, essa foi a leitura do semestre. Inicialmente tive dificuldades no entendimento desse livro, achei complicado e desinteressante. A partir das discussões do grupo e das percepções alheias, percebi que ele poderia tornar-se interessante e comecei a me questionar: por que será que a leitura dele não fez sentido para mim? Fiquei tentada a recomeçar a leitura. Para minha surpresa percebi que tinham muitas coisas que deixava de perceber.
Algumas questões levantadas pelo grupo: no admirável mundo novo buscava-se a felicidade a todo custo; uma das maneiras de tornar os personagens mais felizes era eliminando qualquer tipo de sentimento; quando o sofrimento surgia tomava-se o soma e “ficava tudo bem”; eliminavam-se vínculos afetivos; as pessoas eram condicionadas a viverem de determinada maneira e aceitavam suas condições sem questioná-las.
Tentei entender o motivo, pelo qual a leitura do livro, inicialmente, não ter feito sentido para mim. Para minha surpresa me percebi como no admirável mundo novo. Estava lendo o livro de uma maneira “mecânica” e condicionada, parece que ele entrou no “pacote de coisas” que eu tinha para fazer no momento e não pude senti-lo de verdade. Na realidade me comportava como os personagens do livro, condicionada a realizar tarefas, deixando de lado meus sentimentos e emoções, ficando apenas na leitura do livro. Da mesma maneira que me percebo às vezes na vida, preocupada em realizar coisas deixando de lado meus sentimentos.
Isso me fez pensar que a realidade do admirável mundo novo é atual, podemos vivê-la dentro da gente sem ao menos percebê-la. Quando nos questionamos se é possível um admirável mundo novo, diria que sim, basta procurá-lo em nós mesmos, principalmente quando nos condicionamos a realizar “coisas” e deixamos de pensar, sentir, nos observar e perceber o outro. As ideias do autor do livro que a priori pareciam um absurdo, na realidade fazem parte da vida atual.
. Em seguida, iniciamos a leitura do livro “Vida e Proezas de Alexis Zorbás”. Gostei bastante do livro, prendeu a atenção do começo ao fim. O narrador consegue falar de experiências da vida utilizando a simplicidade na maneira de ser do seu personagem Zorbás.
Duas coisas em especial me chamaram a atenção nesse livro: quando Zorbás fala da velhice e da morte. Ele diz que a morte não é o problema, pois é o fim de tudo, mas envelhecer é vergonhoso. Velhice e morte são dois temas teoricamente e espiritualmente muito debatidos. Mas, Zorbás nos coloca a pensar na prática, no aqui e agora e na experiência, como um “choque de realidade”.
Parece falar do envelhecimento de uma pessoa, que foi perdendo lentamente algumas das capacidades adquiridas durante a vida, seja por meio da doença ou do próprio limite da idade. Lidar com essa realidade é difícil, pois na vida nos preparamos somente para o bom, sempre queremos eliminar as dificuldades e que a morte, neste sentido, pode ser a solução de todos os problemas.
Outra experiência marcante que me fez pensar em Zorbás foi com meu filho de 11 anos. Um dia chegou e começou a fazer comentários sobre o futuro, que existiriam muitos robôs e haveria desumanização. Questionei o que ele entendia por desumanização e ele me disse que era “falta de contato humano”. Sua resposta me surpreendeu, principalmente pela simplicidade com que definiu essa palavra. Zorbás foi um homem de contato humano, vínculos e também conseguia falar de questões humanas de uma maneira muito simples, às vezes, como uma criança.
Zorbás é o homem que, segundo o narrador, vive principalmente o hoje e observa as coisas admirando-as como se fossem pela primeira vez, mas também guarda as experiências do passado, parece aprender muito com elas. Isso também me coloca a pensar na importância de vivermos o presente e ver sentido na vida e naquilo que é certo, que é tudo o que temos neste exato momento. Outra frase do meu filho de 15 anos me contrapõe essa idéia “devemos viver o hoje mas sabendo que tem amanhã, se eu sei que não vai existir o amanhã, que sentido tem o hoje?”. Esta seria outra maneira também possível de compreender esse tema.
Em minha opinião, a mais importante experiência no laboratório de humanidades é que não obtemos respostas para as questões da existência humana. Um mesmo fato pode ser visto e vivido de várias maneiras, dependendo da experiência de vida de cada um. O laboratório de humanidades nos ajuda a questionarmos nossa maneira de enxergar a vida. E tudo isso, pode ser um começo para relações humanizadas...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Reflexão sobre o LabHum

por Erica Endo
Trabalho de conclusão de disciplina

O LabHum começou para mim, antes das aulas e discussões. Quando eu li no mural do Departamento de Fonoaudiologia o curso LabHum, logo me interessei. Contudo, analisando alguns ambulatórios que eu faria de 6ª.feira, seria complicado fazer parte do grupo. Nesse período, uma amiga de outro departamento enviou o email de divulgação do curso dizendo que eu tinha que passar pelo menos uma vez na vida por uma experiência no LabHum. Não hesitei e me inscrevi empolgada e ao mesmo tempo receosa pelo que viria. (Não tinha ideia da dinâmica das aulas! Sabia que seria bem diferente das aulas tradicionais da faculdade).

Eu saia diferente a cada encontro, as discussões causavam inquietações e nas pequenas situações do dia eu pensava nas atitudes das pessoas, suas histórias, personalidades e nas consequências das ações de cada um. Isso ocorreu de maneira mais intensa durante a leitura daa “Odisséia de Homero” e seus encontros, uma vez que me identifiquei pelo livro e pelo tema. Houve um dia, em que eu nomearia como O dia, no tópico dos fracassos de Ulisses-Ulisses conquista o que deseja, mas também fracassa. Tive certeza que o assunto era para mim: “os jovens não suportam o fracasso e se autodestroem”. Eu estava em período puxado, pressões acadêmicas, resultados, resultados, resultados..estava em um círculo vicioso, sem olhar adiante. Esta frase foi essencial para que eu pudesse retornar a minha essência e a não ser crítica diante dos fracassos e fragilidades, mas como é difícil! Somos levados a competir sempre no âmbito acadêmico e fora dele, infelizmente. Ulisses conquistou não só a mim, mas a muitos leitores por ser ele mesmo, sem se importar pela opinião alheia.

A frase de George Moore: “A man travels the world in search of what He needs and returns home to find it ”é a viagem de Ulisses de volta para casa. Durante a viagem, Ulisses ama e sofre por Penélope, vice e versa e não desiste de voltar para sua terra. Quantos amigos próximos precisam viajar por tempo indeterminado para se encontrar e ao voltarem, percebem que a sua casa é o melhor lugar. Muitas vezes, o ser humano precisa sair de sua zona de conforto para conhecer lugares e pessoas diferentes, pois ao regressarem encontram seu verdadeiro lugar.

As discussões sobre o livro de Dorian Gray foram mais interessantes do que a leitura em casa. Quando a leitura ficava cansativa, e em seguida eu ia para o LabHum, a motivação para retornar a leitura era maior. Na realidade, não cheguei a ler todo o livro, terminarei nas férias. Os temas abordados: beleza, experiência versus experimento e culpa foram os que mais me interessaram. A beleza por ser um assunto muito abordado e polêmico, a experiência versus experimento por ter relação pesquisador-ciência e a culpa por ser um sentimento pesado e comum na nossa realidade.

O LabHum era um momento em que eu escutava inúmeras opiniões e me desligada do cotidiano. O escutar é respeitado no LabHum, raridade no momento em que vivemos. A família, amigos, colegas, professores não escutam, não conversam e não se interessam pela ideia do outro, só se tiver algo a ganhar. Tudo esta tão superficial e instantâneo, que as pessoas acham que é normal não almoçar, não encontrar amigos para o simples conversar, entre outros exemplos. As “frases: “não tenho tempo”, ”estou com pressa” são tão usuais que já faz parte do nosso vocabulário. O LabHum é um lugar diferente com ideia e pessoas distintas discutindo e sentindo um mesmo assunto. Espero voltar ano que vem!